Participantes de várias das atividades do Seminário Internacional Fazendo Gênero 13, que acontece nesta semana na UFSC, integrantes do Transverso têm apresentado trabalhos mostrando resultados de pesquisas desenvolvidas no grupo. A série de apresentações começou na segunda-feira, 29, com o trabalho “os agressores na cobertura jornalística de feminicídios”, exposto pela professora Terezinha Silva, uma das coordenadoras do Transverso, e os doutorandos do programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, Márcio Norberto e Wagner Concha.
A partir de análise do conteúdo de matérias sobre assassinatos de mulheres publicadas em mídias da rede NSC, o estudo investigou como os homens implicados nas denúncias são caracterizados nos relatos e em que medida a cobertura reforça ou questiona modelos de comportamento associados a uma masculinidade que se constrói culturalmente e se expressa através da agressividade.
Entre os resultados, eles destacaram que a cobertura oferece poucas informações sobre os agressores e tende a caracterizá-los pela idade, pela relação afetivo-sexual que tinham com a vítima e pela paternidade, sendo que alguns deles também mataram filhos(as). O estudo também mostra que os relatos sobre os feminicídios evidenciam, mas não questionam os comportamentos desses homens, que manifestam sua masculinidade de forma violenta contra as mulheres quando elas desviam de normas e prescrições de gênero. Na conclusão do trabalho, eles destacaram que, ao não questionar ou desnaturalizar tais comportamentos, a cobertura acaba muitas vezes validando, mesmo sem intenção, as justificativas dadas para o assassinato, reafirmando uma lógica violenta.
Como destacou a professora Terezinha na apresentação do trabalho, o tratamento dado pela imprensa aos homens implicados em denúncias de feminicídio é pouco estudado nas pesquisas em Comunicação, mas é importante para que se conheça melhor e se discuta em que medida a cobertura jornalística não está, mesmo de forma não intencional, endossando certos comportamentos que estão na base desses crimes de gênero. Segundo ela, apenas divulgar e denunciar o assassinato não basta para ajudar na prevenção e combate aos feminicídios: “É fundamental questionar essas condutas e as justificativas dadas para o crime, o que pode ser feito ampliando as fontes de informação, buscando fontes especializadas para sair do tratamento apenas policial dos feminicídios”.
O estudo, que será encaminhado posteriormente para publicação em revista científica, faz parte de uma pesquisa mais ampla realizada no âmbito do Grupo Transverso, entre 2021 e 2023. Intitulada Os feminicidios em Santa Catarina e a cobertura jornalística: mapeamento de um problema público, a pesquisa teve financiamento da Fapesc (Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) e apoios de editais da Pro-Reitoria de Pesquisa da UFSC (Propesq) e do CNPq.