O território rural atravessa profundamente as mulheres agricultoras, pois a geografia local, a economia, os costumes e valores que circulam nesse ambiente interferem diretamente no seu modo de vida. São mulheres que sentem o peso da estrutura patriarcal em um contexto de vulnerabilidade, tanto pela falta de assistência e presença do poder público, como também pela invisibilidade na pesquisa acadêmica, na mídia e no jornalismo. Observando essa realidade, a doutoranda e pesquisadora do Transverso Diana Koch investigou quais as representações acionadas em notícias que pautam a mulher agricultora e verificou se as especificidades relacionadas ao território em que essas sujeitas vivem e trabalham são abordadas na cobertura do Portal NSC. O trabalho foi apresentado no Seminário Internacional Fazendo Gênero 13 e faz parte das investigações de tese da doutoranda que estão sendo desenvolvidas dentro do Programa de Pós-graduação em Jornalismo da UFSC, com orientação da professora Terezinha Silva.
“Em minha dissertação de mestrado, quando investiguei a agricultura familiar na cobertura jornalística, já percebi que as mulheres agricultoras quase nunca são ouvidas pelas reportagens. Por isso, decidi analisar dessa vez somente matérias em que essas sujeitas são atrizes centrais da pauta. Assim, com esse trabalho, pude verificar que apenas dessa forma mulheres agricultoras são fontes consultadas e, mesmo assim, as temáticas específicas mencionada por elas ainda são pouco problematizadas. Por exemplo, em um material que pautou a presença feminina na agricultura, duas mulheres agricultoras entrevistadas disseram que estavam grávidas, mas a matéria acabou não aprofundando tal questão. A maternidade faz parte do universo feminino e também do território rural, mas não sabemos, por meio da cobertura jornalística, como é ser mãe e agricultora, como é trabalhar na roça estando grávida, se existem dificuldades de acesso à saúde e acompanhamento médico, etc”.
A doutoranda ainda destacou que as mulheres agricultoras são vistas pela cobertura jornalística como batalhadoras, fortes e que superam as adversidades. O trabalho na roça que essas sujeitas desenvolvem geralmente está associado àqueles entendidos como “leves” e socialmente associados ao feminino como artesanato, receitas caseiras, flores, chás e produção de “miudezas”. Alguns temas importantes apareceram nas matérias como violência física, patrimonial e insegurança alimentar, entretanto, como destaca Diana, essas temáticas não são tratadas como problema público e não há qualquer discussão sobre políticas públicas de combate à violência de gênero no território rural.