Uma parceria entre os grupos de pesquisa GCODES (Gênero, Comunicação, Democracia e Sociedade, do PPGCP/UFPA), Transverso (Estudos em Jornalismo, Interesse Público e Crítica, do PPGJOR/UFSC) e o Sindicato de Jornalistas do Pará (SINJOR) reuniu jornalistas na quarta-feira, 21/08, em um minicurso sobre violência de gênero e cobertura jornalística. O evento, realizado de forma remota, teve a participação de 47 pessoas.
O minicurso foi ministrado pela professora Terezinha Silva, do grupo de pesquisa Transverso (PPGJOR/UFSC), que nos últimos anos têm coordenado pesquisas sobre cobertura de feminicídios. Ao iniciar e contextualizar o tema, ela lembrou que as estatísticas sobre feminicídios no Brasil (1.467 em 2023) ou em quaisquer dos estados brasileiros, todos os anos, mostram o quanto o problema é estrutural. Disse que se trata de um problema público, de todos, e que seu enfrentamento depende de ações coletivas, envolvendo muitos atores e instituições, como os meios de comunicação, que têm um papel crucial na prevenção primária às violências de gênero que acabam levando aos feminicídios. Defendeu a necessidade de maior sensibilidade e compromisso dos meios e de jornalistas com o combate da violência contra as mulheres, o que significa um tratamento mais cuidadoso e menos superficial dos feminicídios, que supere a abordagem meramente policial-judiciária e passe a discutir as causas e as políticas de prevenção, porque o problema traz conseqüências tanto para as mulheres quando para o restante da sociedade.
Em sua exposição, a professora indicou os limites que as pesquisas sobre o tema têm mostrado no tratamento dos crimes contra mulheres na cobertura da imprensa. Indicou também uma série de sugestões de ações que podem contribuir para melhorar a cobertura. Compiladas de vários estudos e pesquisas sobre o tratamento do tema pelos meios de comunicação, as sugestões foram apresentadas na forma de um “check-list para avaliar a qualidade da cobertura jornalística de feminicídios”. Disse que o check-list é uma ferramenta que pode auxiliar tanto as(os) jornalistas que fazem a cobertura do tema, quanto pesquisadoras(es) ou outras pessoas interessadas em analisar a qualidade do tratamento desses crimes na imprensa.
A vice-presidenta do SINJOR-PARÁ, Simone Romero, destacou a importância da parceria entre academia e sindicato para a concretização de atividades de formação como a realizada e para o diálogo sobre os problemas que afetam a sociedade e a atividade jornalística. Lembrou dos desafios enfrentados no contexto atual para o exercício da profissão. Entre eles, apontou a plataformização do jornalismo – um problema transnacional que as entidades profissionais estão tendo que enfrentar, já que traz impactos consideráveis para os(as) jornalistas, para o desempenho de suas atividades e suas condições de trabalho. Na lógica das plataformas – explicou – o que importa é a instantaneidade e não a qualidade ou aprofundamento do que é tratado. E isso impacta no que é considerado de relevância, porque passa a ser relacionada com acessos e cliques, o que produz uma série de distorções.
No debate aberto após o minicurso e mediado pela professora Rayza Sarmento, coordenadora do GCODES/PPGCP/UFPA, as participantes também destacaram a importância dessas iniciativas e espaços para a formação de jornalistas; de sensibilizar os(as) profissionais para uma cobertura mais comprometida com a igualdade e os direitos das mulheres; de realizar uma cobertura mais crítica em relação às obrigações do Estado em garantir a proteção das vítimas de violência de gênero, sem que isso signifique minimizar a relevância de mecanismos que têm salvado a vida de muitas mulheres, como as medidas protetivas; de ampliar as fontes de informação utilizadas nas notícias sobre feminicídios, buscando incluir também mais mulheres como fontes especializadas; e a necessidade de reforçar a formação em ética nos cursos de jornalismo.