A permanência de uma matriz de poder masculinista, racista e heteronormativa, herança da dominação colonial na América Latina, afeta bruscamente a vida das jornalistas dos países dessa região. Diante disso, as profissionais têm se dedicado a tecer uma rede de resistência e proteção, que lhes permita fazer jornalismo a partir de uma perspectiva de gênero, portanto crítica aos poderes que subalternizam diferentes grupos sociais, incluindo elas mesmas. Essa é uma das conclusões da tese de doutorado da pesquisadora Jessica Gustafson, integrante do Grupo de Pesquisa Transverso. O trabalho foi defendido na terça-feira, 7 de março, durante a semana de atividades pelo Dia Internacional da Mulher.
A autora estudou a organização de jornalistas latino-americanas que estão entre as integrantes da Red Internacional de Periodistas con Visión de Género (RIPVG), formada por profissionais de 36 países. Para Jessica, esse modo de articulação é uma maneira de resistir ao sistema moderno colonial de gênero, “considerando que o ponto de agravamento da violência de gênero foi a ruptura de um tecido comunitário que protegia as mulheres quando da intrusão colonial, e acabou expondo as mulheres e tornando-as mais vulneráveis. E hoje, com a expansão da modernidade, do neoliberalismo, vemos o quanto essa violência segue crescente, no que [a antropóloga] Rita Segato chama de ‘genocídio de gênero’”, afirmou.
Desse modo, Jessica Gustafson observa que a articulação construída pelas jornalistas latino-americanas tanto promove a construção de uma perspectiva de gênero para pensar que “jornalismo outro” é capaz de enfrentar a violência de gênero a que as mulheres são expostas, quanto evidencia a necessidade dessas profissionais lutarem para que elas mesmas consigam exercer a perspectiva de gênero no jornalismo. “Isso inclui a denúncia de uma violência de gênero que sofrem as próprias jornalistas latino-americanas”, acrescenta.