Coordenadora do Transverso apresenta trabalho em Congresso na Espanha

Como é tratado o problema público da violência de gênero em matérias jornalísticas sobre feminicídios e como as fontes de informação utilizadas pelos(as) jornalistas condicionam a abordagem deste problema? Esta é a questão que estimulou a professora Terezinha Silva, uma das coordenadoras do grupo de pesquisa Transverso, e a doutoranda Thais Araujo a desenvolveram um estudo que investiga o uso de fontes em crimes de feminicídios com o objetivo de refletir sobre dois aspectos: 1) a presença e a diversidade de fontes nas notícias sobre estes crimes; 2) o potencial das fontes utilizadas para estimular um debate público e um aprendizado social acerca da violência de gênero através da cobertura jornalística de feminicídios.

O paper foi apresentado pela professora Terezinha durante o IX Congreso Internacional de Comunicación y Género (GENDERCOM), que este ano está ocorrendo em Cádiz, no sul da Espanha, em sua versão presencial. Além da apresentação do paper, a professora foi moderadora de sessão de trabalhos apresentados no congresso na manhã desta segunda-feira, 30 de outubro.  

Segundo a professora, a construção de matérias jornalísticas sobre crimes contra mulheres usando predominantemente fontes de informação da polícia tem sido apontada em outras pesquisas feitas no Brasil, há mais de uma década, como uma característica marcante do padrão de cobertura de crimes contra mulheres. “Pouco se tem explorado e detalhado, porém, a respeito da presença ou ausência de outras fontes informativas e o papel que elas desempenham ou poderiam desempenhar nas notícias para a discussão da violência de gênero enquanto problema público e estrutural. É o que buscamos fazer em nosso estudo”.

O paper apresentado no IX Gendercom envolveu análise de um conjunto de 587  relatos jornalísticos veiculados entre os anos de 2015 e 2021 por mídias da rede NSC, maior grupo de comunicação de Santa Catarina. A partir da análise, elas concluíram que a baixa utilização de fontes de informação oriundas de movimentos sociais, feministas e/ou especialistas em violência de gênero nos relatos jornalísticos é um obstáculo para que a cobertura desses crimes alcancem algum aprofundamento, relacionando o crime ocorrido ao problema estrutural da violência de gênero. Da mesma forma, as autoridades públicas ou governantes pouco aparecem nessas notícias; não são procuradas por jornalistas para darem respostas sobre políticas sociais que garantam a proteção das mulheres e que evitem novos assassinatos.

No paper, as autoras apontam que a visibilidade dada aos crimes na cobertura analisada, algo que se evidencia após 2018, três anos depois da lei do feminicídio (2015), é acompanhada pela invisibilidade de determinadas fontes de informação que são fundamentais para trazer ao debate público os comportamentos e os valores de uma cultura patriarcal e machista que estão na base da violência de gênero, assim como as ações públicas capazes de enfrentá-la. 

O estudo apresentado no IX Gendercom é parte de uma pesquisa mais ampla desenvolvida pelo grupo Transverso e coordenada pela professora Terezinha Silva. Intitulada “Os feminicídios em Santa Catarina e a cobertura jornalística: mapeamento de um problema público”, a pesquisa foi coordenada pela professora, teve o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFSC e o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Embora a pesquisa relacionada ao contexto catarinense tenha sido concluída em maio de 2023, a temática da cobertura jornalística de feminícidios continua sendo investigada no grupo Transverso. Além da divulgação dos resultados em congressos e em revistas, que continua ocorrendo a partir de trabalhos de várias/os integrantes do grupo, a  professora Terezinha está ampliando o escopo da pesquisa para o cenário da cobertura jornalística no Brasil. Também pretende desenvolver um estudo comparativo Brasil-Espanha, país onde ela está em um período de pós-doutorado junto à Faculdade de Comunicação da Universidade de Sevilha.