Dissertação de pesquisadora do Transverso será publicada em livro

A dissertação de Mestrado da doutoranda Thais Araujo, integrante do Transverso, será publicada em livro pelo Selo Comunicação e Sociedade, ligado ao Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O trabalho foi orientado pela professora Terezinha Silva, coordenadora do Grupo, desenvolvido junto ao Programa de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGJOR/UFSC) e contou com financiamento da Capes.

Intitulada “Por exclusão ou tutela: os silenciamentos de pessoas com deficiência representadas no Jornalismo”, a obra, prevista para ser lançada no primeiro semestre de 2024, traz as principais discussões teóricas e os resultados da análise de 373 matérias jornalísticas publicadas no Portal G1 ao longo de 2019. Tomando como operador teórico-metodológico o conceito de Representações Sociais de Serge Moscovici, a partir de um modelo de análise desenvolvido em pesquisas do Transverso, o trabalho se dedica ao estudo da relação entre a produção da mídia noticiosa, o processo de (re)elaboração de representações sociais e o fortalecimento da cidadania de grupos socialmente excluídos, para compreender o papel do Jornalismo nesse contexto.

Para a professora Terezinha Silva, “a seleção desta dissertação de mestrado em um edital para publicação em livro é motivo de muito orgulho e emoção para nós do grupo de pesquisa Transverso e do PPGJOR/UFSC, porque mostra a qualidade das pesquisas que temos produzido e o amadurecimento teórico e metodológico das investigações sobre jornalismo que temos feito no grupo. É um grande exemplo também da dedicação pessoal de uma estudante e pesquisadora, que soube aproveitar muito bem o seu percurso de formação na Pós, a sua inserção num grupo de pesquisa, para realizar uma investigação de grande qualidade, num período muito adverso, que foi o da pandemia de Covid, e que está tendo agora mais este reconhecimento. É algo que nos orgulha muito mesmo, porque, além de tudo, aborda a relação do jornalismo com a construção de representações, a luta por direitos e cidadania, que é uma marca forte das pesquisas no Transverso”.

Entre as principais conclusões, a pesquisa aponta que, apesar das conquistas nos marcos legais nas últimas décadas, as pessoas com deficiência ainda têm, com frequência, seus direitos violados e é desta forma que elas aparecem, majoritariamente, nas representações produzidas pelo portal G1: como vítimas de violação de direitos. A análise indica que tais representações reforçam o lugar-cidadão das pessoas com deficiência enquanto depositárias de direitos, mas não como sujeitas de direitos, uma vez que as matérias analisadas não incluem, em sua grande maioria, a subjetividade de quem faz parte desse grupo social, provocando um processo de silenciamento que se dá de duas formas: por exclusão – quando a temática da deficiência é abordada sem que as próprias pessoas com deficiência sejam mobilizadas como fontes de informação, tendo, portanto, suas perspectivas ignoradas, desconsideradas e excluídas por completo; ou por tutela – quando a subjetividade das pessoas com deficiência é apenas tangenciada, mas não incluída, na medida em que suas falas são substituídas pela de alguém considerado mais capaz e competente para expor as opiniões, avaliações e perspectivas em lugar dessas pessoas. Em geral, parentes próximos, como mães, pais, irmãs e irmãos, ocupam essa posição.

A doutoranda Thais Araujo ressaltou a parceria com a orientadora, a quem chama de “incansável”, e as contribuições que recebeu da banca examinadora, formada pelos professores Jorge Ijuim e Isabel Colucci. Ela espera que o trabalho contribua para a compreensão da produção jornalística contemporânea sobre as pessoas com deficiência, problematizando as representações construídas sobre elas; e impulsione reflexões acerca de uma narrativa jornalística mais plural, respeitosa, humana e cidadã.

“Consciente da responsabilidade, mas também dos limites que os profissionais da área têm na tecitura dos sentidos da contemporaneidade, nossa intenção era compreender como o jornalismo poderia suscitar fissuras em representações que nos parecem consolidadas e contribuir para atualizar aquelas que limitam e violentam a existência social de grupos vulnerabilizados, como o de pessoas com deficiência. A pesquisa aponta que somente com a inclusão das demandas silenciadas será possível desafiar estereótipos e romper certas representações (re)construídas pelo jornalismo, que se relacionam, em grande medida, com a efetivação dos direitos desse grupo social e o próprio exercício da cidadania. Essa inclusão assegura às pessoas com deficiência o direito de participar ativamente da elaboração de representações sobre elas mesmas e sobre suas práticas sociais, garantindo-lhes a reivindicação, preconizada pela ONU, de que nada seja dito ou feito sobre elas, sem elas”, disse a pesquisadora, que no Doutorado, em andamento, busca dar prosseguimento à investigação da temática, debruçando-se sobre as representações de mulheres com deficiência em mídias com perspectiva de gênero. A pesquisa também é orientada pela professora Terezinha Silva, está sendo desenvolvida junto ao PPGJOR/UFSC e conta com financiamento da FAPESC.